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BRASÍLIA GANHA MEMORIAL EM HOMENAGEM A DEZ PIONEIROS.

#Memorial funciona de terça-feira a domingo e também recebe visitas de turmas escolares e universitárias.



Viver pela terra, pela fauna, pela flora e pela água de uma região é uma missão nobre, e são poucas as pessoas dispostas a aceitá-la. No Planalto Central, dominado pelo cerrado, 10 nomes se destacaram nesse trabalho e, mesmo após a morte, essas pessoas não haviam recebido uma homenagem apropriada por terem dedicado a existência para garantir que a geração atual pudesse desfrutar do rico ecossistema que a rodeia. Em honra a esse trabalho, entrou em funcionamento ontem o Memorial dos Cerratenses, rodeado pelo Jardim Botânico de Brasília.

Foram necessários 12 meses de organização, apuração e produção para que a vida de 10 pessoas, desconhecidas por muitos, se tornasse uma biografia digital, que ficará guardada em um totem instalado no Centro de Excelência do Cerrado. As figuras homenageadas são o ator, diretor e autor teatral Ary Para Raios; o escritor e crítico de arte Carmo Bernardes; a parteira Dona Lió, matriarca dos Kalungas; a arte-educadora Laís Aderne; o pajé Sapaim Kamaiurá; o guia da Missão Cruls Viriato de Castro; e os pesquisadores Jeanine Felfili, Linda Caldas, Paulo Bertran e Vanderley de Castro.

O grupo é composto por uma miscigenação de raças, sabedorias e atividades. São pessoas que trabalharam em prol de pesquisa e tecnologia, história, arte e cultura, movimentos sociais e povos tradicionais da região. O idealizador do projeto, o biólogo Rafael Poubel, conta que a ideia surgiu a partir da percepção da falta de conhecimento da população sobre o bioma onde vive. “O cerrado é a nossa casa, ele dá a água que bebemos, e, se cerca de 60% do nosso corpo é água, isso quer dizer que nós somos o cerrado e precisamos conhecê-lo”, explica.

Destacar a biografia de quem viveu pelo bioma seria, para Rafael, um resgate histórico. “Eu nasci em Brasília, mas, na escola, nós só aprendemos a história da nossa terra a partir da construção da capital. Não ficamos sabendo sobre o que tinha aqui antes: um espaço que abrigava índios, vida e muita história, que agora começa a ser resgatada”, conta ele, que é ex-integrante da equipe do Jardim Botânico, área protegida, vinculada à Secretaria de Meio Ambiente do Distrito Federal (Sema/DF). O projeto é realizado pela Secretaria de Cultura do DF e recebe patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).

Futuros defensores: O memorial funciona de terça-feira a domingo e também recebe visitas de turmas escolares e universitárias. A bióloga Alba Evangelista, 60 anos, que visitou o lugar durante a inauguração, conta que, além de homenagear o passado, o conhecimento disponível pode ajudar a formar os próximos cerratenses. “O trabalho de educação é como plantar uma semente, você tem que estar lá todo dia, regando, cuidando, para que se torne uma árvore. Projetos como esse ajudam nisso porque você faz uma conexão com o presente, não só com a questão da natureza do cerrado, mas também com a parte cultural e social”, explica. A bióloga acredita que receber um público mais jovem ajudará a mostrar tudo que é perdido quando se destrói o cerrado.

“Com o uso econômico das terras, seja com gado, seja com lavouras, você não perde só a biodiversidade, mas também a cultura e todas as vivências que ocorreram ali. A nossa história e a dos nossos antepassados são perdidas junto. Acredito que saber sobre a vida de quem cuidou do cerrado por gerações pode fazer com que as pessoas queiram continuar esse trabalho”, afirma.

A coordenadora-geral do projeto, Carina Bini, acrescenta que a expectativa é adicionar a trajetória de mais cerratenses ao memorial, com o objetivo de conscientizar e informar o público da capital federal e de fora dela. “Além do espaço físico, estamos lançando um site, em que todo conteúdo dos totens estará disponível para pessoas de todo o Brasil”, explica.


Brasília terá memoraial em homegem a dez pioneiros

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