GIRO DA NOTÍCIA

ÚNICO HOSPITAL DE PACARAIMA ESTÁ SUPERLOTADO E COM PRECARIEDADE.

#Boa Vista se tornou urgente, mas a única ambulância do local havia acabado de sair rumo à capital, a 200 km de distância, com um paciente que havia sofrido um infarto.


Centro cirúrgico parado há quase 30 anos, convertido em sala de parto e maternidade. Cozinha desativada com o esgoto retornando pelo encanamento. Laboratório precário que realiza apenas hemogramas e dependente da doação de insumos da Venezuela. Pagamentos irregulares de salários dos profissionais da limpeza.

Essas foram algumas das precariedades encontradas pela reportagem do R7 na última sexta-feira (24) no Hospital Délio Tupinambá, em Pacaraima (Roraima), na fronteira do Brasil com a Venezuela, que está no centro de uma crise social e humanitária pelo intenso fluxo de imigrantes venezuelanosao Brasil.

O único hospital da cidade — que conta também com dois postos de saúde — se tornou um símbolo do descaso das autoridades estaduais e federais com a região, que batem boca publicamente na disputa por milhões de reais, enquanto os profissionais de saúde, a população local e os venezuelanos se viram como podem na desestruturada unidade.

A falta de condições colocou em risco a vida do comerciante Raimundo Nonato de Oliveira, de 55 anos, que no último dia 17 foi brutalmente agredido na cabeça durante um assalto a sua residência, aparentemente por quatro venezuelanos — o que gerou revolta na cidade afligida pela violência e culminou com o ataque de um grupo de brasileiros aos migrantes em situação de rua, com a expulsão de 1.200 deles para o outro lado da fronteira.

Seu Raimundo entrou na unidade com estado de saúde grave, intensa perda de sangue e necessidade urgente de transfusão. No entanto, não havia condições no hospital para estabilizar seu quadro clínico, segundo os profissionais de saúde, que não serão identificados nesta reportagem.

A remoção para Boa Vista se tornou urgente, mas a única ambulância do local havia acabado de sair rumo à capital, a 200 km de distância, com um paciente que havia sofrido um infarto.

“Não há condição alguma de atender a pacientes graves”, relata um funcionário.

Em cozinha, sem cirurgia, sem luz: “Este é um hospital de pequeno porte sem estrutura para ser referência. No laboratório só fazemos hemogramas. Não temos condições de fazer transfusão de sangue. Nosso raio-x só está funcionando porque o hospital de Santa Elena [de Uairén, na Venezuela] nos doou o químico esta semana”, conta uma funcionária. “Precisamos de mais estrutura”.

Em uma cidade com 12 mil habitantes (e um número incerto de refugiados), o hospital assiste ao crescimento acelerado do número de atendimentos, que passou de 5.791, em 2016, para 10.368 somente no primeiro semestre deste ano — sendo 6.509 de venezuelanos, ou 63% do total.

A precariedade, no entanto, limita a capacidade do serviço. “Nós estamos deixando de internar alguns casos por falta de comida”, conta outra funcionária.

Na cozinha da unidade, desativada, é possível notar vazamento de esgoto, infiltrações nos armários e falta de limpeza dos armários (veja em imagens a situação do hospital). O local é usado parcialmente apenas para o preparo de café e lanches.

Atualmente, os alimentos são comprados pela direção e as refeições são preparadas na casa de uma funcionária. Almoços e jantares são servidos para a equipe e para quem já está internado, sem espaço para imprevistos.

A reportagem presenciou naquele dia o marido de uma mulher venezuelana levando seu almoço poucas horas após ela dar à luz.

No centro cirúrgico, apenas uma placa na parede indica para o que deveria ser aquele local, que nunca realizou uma cirurgia desde a fundação do hospital, em 1992, e então foi transformado em sala de partos.

Para atendimentos urgentes, a unidade conta com dois kits catástrofe, obtidos recentemente, cada um formado por um desfibrilador, um ventilador, duas bombas de infusão e um monitor cardíaco. Todo atendimento mais complicado precisa ser levado para Boa Vista.

Sem mencionar o problema dos apagões, que se tornaram rotina na vida dos roraimenses, já que a energia vem da Venezuela, onde a manutenção é feita cada vez de forma mais precária. Há exatamente duas semanas, uma venezuela vinda de Caracas, em missão empresarial na fronteira, morreu após ter uma parada cardíaca em meio a um apagão, porque os geradores não funcionaram.

“Não conseguimos dar o choque nela”, conta um funcionário.

Único hospital de Pacaraima vive na precariedade e com super lotação

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