AGÊNCIAS INTERNACIONAIS DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCOS DEMOSTRAM PREOCUPAÇÃO COM O CENÁRIO BRASILEIRO.
#Brasil enfrenta uma série de desafios macroeconômicos e fiscais estruturais que não podem ser ignorados no processo eleitoral. “Os grandes deficits primários do governo geral e o aumento do endividamento".
Em nota assinada pela diretora sênior Shelly Shetty, a norte-americana Fitch Ratings considera que, "sem reformas sustentadas, os déficits fiscais continuarão altos e a dinâmica da dívida do governo será adversa, pesando ainda mais na confiança mais ampla dos investidores e na atividade econômica”.
A agência confirmou a nota dos títulos soberanos do Brasil em BB-, três degraus abaixo do nível de investimento dado aos países com o selo de bom pagadores, e manteve a perspectiva “estável”, mas sinalizou que pode mudar a nota, dependendo do resultado das eleições.
Na avaliação da executiva, há muita imprevisibilidade no momento e apenas os resultados da eleição definirão o cenário de médio prazo para a política econômica e fiscal do Brasil, uma vez que os candidatos defendem plataformas muito variadas e não há uma certeza sobre qual será a base do novo governo. “Notavelmente, alguns dos principais candidatos pertencem a partidos menores, o que pode aumentar os desafios no trabalho com o novo Congresso”, pontuou.
Para a analista, o Brasil enfrenta uma série de desafios macroeconômicos e fiscais estruturais que não podem ser ignorados no processo eleitoral. “Os grandes deficits primários do governo geral e o aumento do endividamento em meio a uma morna recuperação econômica limitarão seriamente a flexibilidade política do novo governo”, frisou. Além disso, destacou os riscos externos ligados ao aumento das taxas de juros dos Estados Unidos e potenciais atritos comerciais globais e uma desaceleração na China também poderiam aumentar as vulnerabilidades. “Qualquer deterioração no ambiente político pós-eleitoral poderia desafiar ainda mais o crescimento. Ao mesmo tempo, as perspectivas de reformas estruturais para impulsionar o fraco crescimento potencial permanecem incertas”, completou.
Assim como o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, sinalizou ontem que poderá subir os juros ainda neste ano se o resultado das eleições confirmar uma agenda não reformista para equilibrar as contas públicas e dar mais previsibilidade ao mercado, Shelly também sinalizou que a nota de risco país pode piorar, se não houver um comprometimento com a reforma da Previdência e com um ajuste fiscal de até 5% do Produto Interno Bruto (PIB). “A abordagem do novo governo para enfrentar os desafios fiscais estruturais será fundamental para a trajetória de déficits e dívidas soberanas de médio e longo prazo.
A reforma da Previdência social, em particular, provavelmente estará entre as questões políticas mais importantes a serem tratadas, pois representa mais de 40% das despesas primárias”, alertou. Ela reconheceu que a consolidação de programas sociais, a alteração da fórmula de crescimento do salário mínimo e a revisão de outros gastos obrigatórios também serão importantes. “A Fitch acredita que uma consolidação do déficit primário de 4% a 5% do PIB poderia ser necessária no médio prazo para estabilizar e reduzir o ônus da dívida pública”, completou.
Conforme a nota da Fitch, um fracasso no ajuste fiscal levarão o país para um rápido crescimento do dívida pública, “um fator negativo de crédito”. Em fevereiro deste ano, a Fitch rebaixou o rating dos papeis do governo brasileiro de BB para BB- e revisou a perspectiva de “negativa” para “estável”.
Moody's prevê desafios: Independentemente de quem vença as eleições presidenciais no Brasil, dada a perspectiva política polarizada, o novo presidente enfrentará desafios para estabelecer uma relação de trabalho com o Congresso que o capacite a governar efetivamente, apontou a agência de classificação de risco Moody's.
"Nosso cenário base não incorpora a aprovação de uma ampla reforma previdenciária e esperamos que o teto dos gastos seja alterado durante a próxima administração. No entanto, esperamos que uma relação de trabalho com o Congresso leve à aprovação de uma reforma da Previdência, consolidação fiscal e aumento da confiança do investidor", apontou Gersan Zurita, vice-presidente sênior da Moody's.
A agência pondera ainda que, no caso de o novo governo não conseguir retomar as reformas, haverá uma dinâmica fiscal adversa, e a volatilidade do mercado financeiro e a diminuição da confiança dos investidores influenciarão a recuperação econômica do Brasil. "Um ciclo de feedback negativo entre as forças fiscais e macroeconômicas levaria a um acúmulo de dívidas mais rápido do que em nossa linha de base", segundo o relatório da Moody's.
Em um cenário de continuidade de políticas, a Moody's espera uma recuperação gradual do crescimento do crédito, ativos e lucratividade estáveis. Mas, em um cenário de ruptura política, "os custos do crédito aumentariam, mas a capitalização do banco permaneceria estável, enquanto a indústria de seguros continuaria a desafiar a turbulência política e a estagnação econômica. O crescimento aumentará se a economia continuar se recuperando e o risco político diminuir", acrescentou a agência.
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