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MORTE POR INFECÇÃO GENERALIZADA BATE RECORDE EM HOSPITAIS DO BRASIL.

#Doentes com sepse para a unidade de terapia intensiva nas primeiras 24 horas, por exemplo, está associada ao aumento das chances de sobrevida, mas o paciente do SUS enfrenta mais barreiras nesse acesso.


Um estudo inédito em 74 hospitais de todo o País mostra que a taxa de mortalidade de pacientes com sepse (infecção generalizada) nos prontos-socorros públicos é mais que o dobro da registrada nos privados (42,2% contra 17,7%).

Vários fatores podem explicar essa diferença, entre eles a demora do paciente em acessar o serviço de saúde, o diagnóstico tardio, o tratamento inadequado e a falta de leitos de UTI e de outros recursos.

A transferência do doente com sepse para a unidade de terapia intensiva nas primeiras 24 horas, por exemplo, está associada ao aumento das chances de sobrevida, mas o paciente do SUS enfrenta mais barreiras nesse acesso.

Segundo o estudo, essa recomendação é seguida com muito mais frequência em hospitais privados (42% contra 14,8% nos públicos).

Nos hospitais públicos, os pacientes permaneceram no pronto-socorro até a alta ou a morte em 38,5% das ocasiões, com taxa de mortalidade de 61,8%. Nos privados, apenas 6,2% dos doentes ficaram no PS até o desfecho do caso, com taxa de mortes de 37,5%.

Segundo o médico Luciano Azevedo, presidente do Ilas (Instituto Latino Americano de Sepse) e um dos autores do estudo, o fato de o paciente ficar no pronto-socorro enquanto aguarda um leito na UTI aumenta o seu risco de morte.

“O paciente chega ao PS com um infarto, um AVC ou um trauma e fica à espera de leito de UTI. Se ele tiver sepse, o risco de mortalidade é maior. No PS, ele não receberá o cuidado adequado que uma UTI proporciona”, diz Azevedo. Participaram do estudo 350 pacientes atendidos em 28 hospitais públicos e 46 privados.

Um dos gargalos do SUS, os leitos de UTI estão presentes em menos de 10% dos municípios brasileiros e há muita desigualdade, segundo levantamento do CFM (Conselho Federal de Medicina).

Ao todo, o País possui cerca de 41 mil leitos de UTI, sendo metade deles disponíveis para o SUS, e outra metade à saúde privada ou suplementar (planos de saúde), que só atende a 25% da população.

Também há disparidades regionais: O Sudeste concentra 53,4% (23.636) das UTIs de todo o País. Já o Norte tem a menor oferta, com apenas 5% (2.206) de todos os leitos.

Além da falta de leitos de terapia intensiva e dos cuidados que ela proporciona, as emergências públicas também tendem a ter uma estrutura mais deficiente do que as privadas. “Há escassez de recursos, são muitos pacientes para poucos profissionais”, afirma Azevedo.

Para o intensivista Álvaro Réa Neto, professor da Universidade Federal do Paraná e conselheiro da federação mundial das sociedades de medicina intensiva, a dificuldade de acesso aos serviços públicos é um outro fator que explica as disparidades dos desfechos.

“Os pacientes menos favorecidos chegam mais tarde aos hospitais, quando a doença já está mais evoluída. Assim como o infarto e o AVC [acidente vascular cerebral], a sepse é um doença muito sensível ao tempo”, explica.

Se não houver uma investigação rápida e um tratamento adequado da doença, os riscos também aumentam. Recomenda-se, por exemplo, a utilização de antibióticos nas três primeiras horas do diagnóstico da doença, mesmo antes da identificação do vírus, bactéria ou outro agente infeccioso.

O infectologista Marcos Boulos, professor da USP, estranha a disparidade das taxas de mortalidade entre os serviços públicos e privados apontada no estudo. “Tanto há hospitais públicos e privados muito bons quanto os muito ruins, que sofrem sobrecarga, falta de leitos de UTI. Não é compreensível essa diferença.”

No entanto, ele afirma que, nos últimos três anos, aumentou a falta de profissionais no SUS porque, com a crise econômica e o corte de recursos em saúde, quadros de pessoal não estão sendo repostos, o que pode já estar trazendo prejuízos à qualidade da assistência.

Segundo Azevedo, há também falta de capacitação de muitos médicos que trabalham nas emergências, que, diante de sintomas como febre, mal-estar e fraqueza, confundem a doença com gripe ou outra infecção viral.

Morte por infecção generalisada bate recorde no Brasil

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