HOMEM REGISTRA O PRIMEIRO CLUBE DA CANNABIS NO PAÍS.
#Clube da cannabis foi criada através de um evento sobre empreededorismo.
Fernando conta que, mesmo sem fazer muito esforço de mídia e publicidade, 53 projetos foram inscritos. Desses, 18 tinham potencial e 10 foram selecionados. O objetivo era mostrar que as pessoas podem empreender nesse setor.
O vencedor foi o Plantando a Paz Produções, que tem como principal objetivo ser uma fábrica de ideias a favor da legalização da maconha no país. Vai promover eventos e publicações voltadas ao mercado canábico. Durante a maratona, o idealizador, Mauro Leno, recebeu consultoria para estruturar sua ideia em um negócio, torná-lo rentável, sustentável a longo prazo, além de orientações sobre como apresentá-lo à sociedade. Muitos outros projetos tinham potencial, como um centro de terapias com cannabis medicinal, uma miniestufa automatizada, uma produtora de conteúdo.
Fernando não criou um evento para tratar sobre o mercado legal da maconha por acaso. Desde 2014, usa o seu conhecimento jurídico para facilitar o acesso a novos negócios nesse setor. Estudou a experiência de outros países, tornou-se um dos principais membros de uma comunidade virtual que reúne 60 mil pessoas, o Growroom, uma plataforma de apoio a cultivadores domésticos. Nesta seara, estão desde as pessoas que precisam de medicamentos à base de cannabis quanto os que fazem uso social – ele rechaça o termo recreativo. “Ninguém diz que consome álcool de forma recreativa, diz que faz uso social, é a mesma coisa.”
Hoje, é um porta-voz do tema no Brasil. Dá palestras até para policiais. Chamado pela escola Perestroika para ajudar a fazer um evento sobre o tema, reuniu 200 pessoas. Depois disso, passou sete meses dando consultoria àquele público. Ele fala da procura em interessado em empreender neste nicho:
“Aparece muito mais gente séria me procurando do que doidão. As pessoas querem falar de mercado canábico, fazer negócios. Não tem apologia, só coisa lícita”
E prossegue: “Me procura, por exemplo, um professor da UnB que quer produzir fibra a partir do cânhamo ou os veganos, porque há estudos sobre a proteína da semente, sobre azeites. Não estou nisso por oba oba”.
Outro exemplo: um grupo de estudantes da UnB, que têm uma pesquisa sobre cosméticos feitos com cannabis. Hoje, por ter a privação legal, eles não conseguem nem matéria-prima para fazer um protótipo de forma regular. “A Body Shop vende produtos de cannabis no mundo inteiro. Como competir? É a mesma coisa com os remédios. Aqui sai caro”, diz Fernando.
O empresário sabe, no entanto, que o tema é sensível. Sabe que a droga é um meio de vida em muitas comunidades carentes e que o tráfico se aproveita de todo movimento, inclusive o legítimo. Mas acredita que explorar esse potencial é um caminho sem volta. Em dois anos, o mercado legal da cannabis será importantíssimo para a geração de riqueza no país. Até que a Justiça decida sobre a legalização da maconha, ele atua num limbo jurídico.
Como garantir um salvo-conduto para pessoas que cultivam a planta para consumo próprio, seja para fins medicinais, seja para fins sociais? “Hoje, não se consegue autorização legal para cultivar. Brinco que você tem de ser um desobediente civil. Fazer e depois explicar, comprovar que tem renda, paga suas contas, não tem antecedentes e planta para consumo próprio. É uma quebra cultural”, diz.
Ele congrega um time jurídico para garantir a defesa de quem enfrenta problemas com a Justiça. Este ano, registrou em cartório o Clube Social da Cannabis do DF, o primeiro da capital da República e, provavelmente, do Brasil – ele mesmo não tem conhecimento de outro. É uma associação sem fins lucrativos, feita de acordo com os moldes da Encod (European Coalition for Just and Effective Drug Policies), organização governamental europeia concebida em 2005 como forma de permitir a produção e distribuição legal de cannabis para adultos.
Os cinco membros do clube de Brasília se assumem usuários, começam a cultivar e fazem prestação de contas. O objetivo é criar argumentos para que os usuários jamais sejam confundidos com traficantes. Outros registros estão em andamento no Distrito Federal e no Brasil. Fernando conta que muitos cultivadores temem a formalização. O motivo, além da proibição legal, é a interpretação equivocada e o preconceito que ronda os usuários.
“Há advogados, procuradores, empresários que cultivam cannabis, mas temem uma repercussão negativa e o impacto nos seus negócios. Eles têm medo. Eu digo que precisam sair do armário”
Fernando saiu faz tempo. Aparece em fotos com boné que faz alusão à maconha, angaria fundos em sistema de crowdfunding para manter o Growroom, dá palestras e faz lobby com políticos e juristas para defender a causa. Acredita que o momento para empreender neste mercado é agora, ainda que haja limitações legais. “Percebi que o dinheiro em si não está na cannabis, mas no que se tem em volta, nesse lifestyle. É como a tatuagem, que há 20 anos era marginalizada. Hoje tem um tatuador em cada esquina, tem até reality show. A cannabis estará nesse mainstream”, afirma. E está no direito.
Fernando Santiago, 35, empresario |
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