GIRO DA NOTÍCIA

EXPOSIÇÃO BRASILEIRA RETRATA A HISTÓRIA DE NAVIOS NEGREIROS NOS EUA.

#Exposição brasileira está disponível na Quinta Avenida.


Uma vitrine da Quinta Avenida, plantas e flores crescem num canteiro iluminado por fortes luzes artificiais. Os tons de verde misturados ali, quebrados por um rosa ou lilás, dão um ar de refúgio tropical a essa galeria no meio da metrópole, onde os termômetros começam, nessa época, a marcar temperaturas abaixo de zero.

Mas esse é um calor violento. As plantas agora nessa exposição da New School, a famosa faculdade de arte e design no sul da ilha de Manhattan, não são espécimes exóticos à venda numa floricultura estilo butique dessas que se alastram por todo o bairro do Village. Elas são as ervas daninhas de séculos de colonização e tráfico de escravos.

Maria Thereza Alves, uma artista brasileira radicada em Berlim que está entre os nomes mais relevantes no cenário global, passou os últimos anos cavando zonas portuárias em todo o planeta atrás da flora que brotou das sementes do lastro dos navios.

Todas as embarcações, para se estabilizarem em alto mar, saindo às vezes carregadas de escravos para voltarem vazias ao porto de origem, levavam como parte de sua carga camadas de pedras, areia, terra e restos de madeira, tudo que era descartado no lugar de onde zarpavam.

Esse lastro não raro vinha coalhado de sementes que só brotariam depois, dando origem a estranhos jardins tropicais em terras gélidas ou o contrário, criando um esquema de colonização involuntário que se manifesta não por guerras ou pela imposição de bandeiras, mas por flores e arbustos insuspeitáveis.

Alves, mesmo antes de se tornar uma especialista na chamada flora de lastro, já usava uma dessas folhas em saladas que gosta de fazer.

Mas o gosto mudou depois que toda a história dessas plantas que ainda sobrevivem em canteiros largados pela cidade entrou em foco.

"Essa terra é violenta. Nunca usei metáforas no meu trabalho, mas pensei nas sementes como testemunhas de um complexo mercado de compras e vendas", diz Alves, mostrando uma das aquarelas da exposição em que detalhou camadas de lastro no porão de um navio negreiro.

"É areia do Caribe, coral, areia vulcânica. Os escravos eram levados primeiro para essas ilhas e depois eram trazidos a Nova York. A terra aqui não é daqui. Você nunca sabe onde está pisando."
Exposição está na Quinta Avenida de NY

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