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BRASIL PODE VOLTAR PARA O MAPA DA FOME COM 52 MILHÕES DE POBRES.

#Combate à pobreza no Brasil ganhou corpo entre 2003 e 2014 com a valorização do salário mínimo, aos programas de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), Aquisição de Alimentos (PAA), de Alimentação Escolar (PNAE), de cisternas, da aposentadoria rural e o acesso às sementes e às creches.


O Brasil não tem nada a comemorar nesta quarta-feira (17), quando se celebra o Dia Mundial de Erradicação da Pobreza. Envolto em uma crise econômica tida por especialistas como a mais grave da história, o país vê o agravamento das condições de vida dos mais carentes, apenas 5 anos após deixar o Mapa da Fome.

Segundo analistas ouvidas pela Sputnik Brasil, embora o mais recente relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês) não tenha recolocado o país no Mapa da Fome – criado em 1990 e que mostra países com mais de 5% da população em situação de insegurança alimentar –, o desmonte de políticas públicas associado à crise já se faz sentir em levantamentos nacionais.

"A política social, mesmo nos anos de 2003 até 2013, 2014, 2015, não foi suficiente a política de combate à pobreza para realmente instituir mecanismos que fossem capazes de evitar que, no momento de queda do ciclo, de desaceleração econômica, o impacto sobre a pobreza fosse tão dramático quanto é hoje", avaliou Lena Lavinas, doutora em Economia pela Universidade de Paris e docente de Política Social e Economia do Bem-estar na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Um levantamento recente produzido pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e pela ONG ActionAid Brasil – baseado em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – mostrou que a fome hoje já atinge 11,7 milhões de pessoas no Brasil, o que corresponde a 5,6% dos brasileiros.

Contudo, o próprio IBGE – com base na pesquisa Síntese dos Indicadores Sociais – apresentou números ainda piores em dezembro de 2017. De acordo com o instituto, já em 2016 aproximadamente 13,4 milhões de pessoas já viviam em condição de pobreza extrema no país, atingindo 6,5% do total populacional.

Um terceiro estudo, este produzido pela Tendências Consultoria, afirma que a pobreza cresceu em 25 dos 27 estados brasileiros nos últimos 4 anos. Se em 2014 a miséria estava em 3,2%, ela subiu para 4,8% no ano passado, se aproximando dos 5% que é a nota de corte para um país figurar no Mapa da Fome da FAO.

Se encaixa na condição de extrema pobreza aqueles que vivem com menos de US$ 1,90 (R$ 7,12) por dia, conforme índice definido pelo Banco Mundial. Por este índice, em 2016 a instituição colheu dados que apontam para um total de 52 milhões de brasileiros que vivem em tal situação calamitosa.

A piora mostrada por tais índices e pesquisas é explicada pelo calvário que o país começou a viver principalmente a partir de 2015, com a estagnação da economia, o aumento do desemprego e cortes nos investimentos de políticas públicas de assistência social.

Toda essa situação econômica ruim que causou uma queda dos índices sociais foi agravada por medidas de austeridade como a PEC do Teto dos Gastos, aprovada em 2016 e que congela os investimentos em saúde e educação por 20 anos.

"Nós estamos vendo uma desconstrução brasileira, como também as políticas que foram inauguradas que nem bem chegaram a se consolidar e já estão sendo desmontadas também", destacou à Sputnik Brasil Maria Emília Pacheco, mestre em Antropologia Social pela UFRJ e integrante da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE).

Crianças, mulheres e negros: as maiores vítimas: Em seus dados divulgados em dezembro do ano passado, o IBGE apontou que 25,4% dos brasileiros – o que corresponde a um quarto da população – vive mensalmente com apenas R$ 387. A situação de extrema pobreza vitima principalmente negros, mulheres e, sobretudo, as crianças até 14 anos: são 42 milhões (42,4%) de pequenos brasileiros nesta condição precária.

Associado a isso, o aumento da taxa de mortalidade infantil no país em 2016, após 26 anos de seguidas quedas, é considerado por especialistas como um aspecto sintomático do agravamento da pobreza, assim como o índice de mais de 13 milhões de desempregados, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE.

Os maiores atingidos pela pobreza também são os mais dependentes de programas assistenciais, como o Bolsa Família, que beneficia famílias que vivem com renda de até R$ 85/mês – esta é a primeira faixa do programa, ampliado pelos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) a partir da fusão de diversos programas anteriores de auxílio e transferência de renda.

Além do Bolsa Família, o combate à pobreza no Brasil ganhou corpo entre 2003 e 2014 com a valorização do salário mínimo, aos programas de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), Aquisição de Alimentos (PAA), de Alimentação Escolar (PNAE), de cisternas, da aposentadoria rural e o acesso às sementes e às creches.

Brasil pode voltar para o Mapa da Fome com 52 milhões de pobres

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